3 de nov. de 2016

É o Fim do Software Livre no Governo Federal?

Eu responderia com "algum dia SL começou no Governo Federal?", mas estaria pondo a carroça à frente dos bois.

Vamos do começo: sou formado em Física, pela Unicamp e trabalho no SERPRO, o Serviço Federal de Processamento de Dados, desde 2005. Passei a gostar (=não-racional) de Software Livre assim que eu descobri o que era: uma opção de software normalmente mais poderoso e estável que todas as outras. No começo foi uma relação platônica, a distância: eu não tinha o conhecimento suficiente para usar, ou não tinha um software adequado ao que eu queria fazer.

Assim, quando entrei no SERPRO eu tive chance de participar de uma coisa chamada Comitê de Software Livre, ou CSL. Ele foi estabelecido como parte de uma estrutura maior, o Programa SERPRO de Software Livre, ou PSSL. De acordo com o memorando que estabeleceu o PSSL:


Esse documento foi emitido em 2003. A troca de comando do SERPRO ocorreu apenas em 2007. Até lá ainda era a mesma administração estabelecida pelo governo anterior, ou seja, o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Você pode argumentar que o SERPRO não é o Governo Federal, e você estará certo. Porém o SERPRO tinha um papel fundamental: alavancar a mudança por meio da evolução de seus produtos:


Volto a insistir: tudo isso estava pronto ANTES de Lula ser eleito pela primeira vez. A resolução foi oficializada em 2003, mas ela não surgiu do nada. Eu pesquisei a história do SL no governo federal e sei que há anos discutia-se sobre isso, muito antes de 2003 esse link tem um histórico, leia!)

Logo, essa é o primeiro fato largamento ignorado sobre SL na esfera pública:
A adoção de Software Livre no Governo Federal NÃO FOI ação do governo Lula, mas do Governo FHC.

Fazer Mais Com Menos

Um dos pontos positivos do Governo FHC era que, apesar de assistencialista e de esquerda, tinha um respeito inabalável pela boa governança, pela gestão com qualidade. Essas coisas não ganham eleições e por isso não era visível o esforço que se fazia para racionalizar custos e melhorar a qualidade do investimento.

Essa orientação está na raiz do PSSL - basta olhar os itens da primeira figura: reduzir custos, melhorar o nível de serviço e sua qualidade.

A idéia até então era aproveitar que SL é um produto naturalmente superior e com melhor relação custo-benefício para aumentar a rentabilidade do SERPRO, para entregar mais serviços com menos custos e mais qualidade.

NUNCA foi objetivo do PSSL fazer qualquer tipo de substituição cega, apenas por ideologia. O foco na qualidade e na economicidade era declarado de saída.

Logo, o segundo fato largamento ignorado é:
NUNCA houve a meta de trocar Windows por Linux. NUNCA, NUNCA, NUNCA. A meta era usar SL para MELHORAR O SERVIÇO PÚBLICO, não para remover um fornecedor do rol de pagamentos do estado brasileiro.

Business as Usual

Daí damos de cara com a seguinte notícia:

Temer, do PMDB, sinalizou que isso não ocorrerá mais ao instituir que os órgãos do Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP) têm até 11 de novembro para indicar de quais programas da Microsoft vão precisar para continuar trabalhando.

Ora, ora, ora. Vamos por partes.

Qualquer um que saiba qual é o tamanho do Governo Federal sabe que ele não funciona a toque-de-caixa, muito menos uma caixa tocada por uma única pessoa. O Governo Federal possui uma estrutura complexa, com regras, regulamentos, processos etc. etc. etc. É um treco literalmente do tamanho de uma cidade!

Uma das coisas que se faz todos os anos é programar o orçamento para o ano seguinte. Isso inclui levantar os gastos estimados, as necessidades de pessoal, material, infra-estrutura etc.

Uma dessas estimativas é compra de hardware e, consequentemente, de Software. Ora, meus caros leitores, o quase totalidade de todos os computadores do Governo Federal usados pelos funcionários públicos para seu trabalho diário - traduzindo: os PCs ou estações de trabalhos - funciona em Windows. É assim desde que o o Planalto começou a se informatizar, e vai ser assim ainda durante um tempo indefinido.

Eis, assim, o terceiro fato largamente ignorado:
Todo ano o Governo Federal pesquisa quanto vai ser gasto nos insumos para o ano seguinte, e software é um destes.
Logo, o que a notícia aventa é nada mais nada menos que o rumo regular da administração pública.

Porquê? Porque destacam um fato ordinário com tanto furor?

Veremos se essa resposta aparece em algum dos fatos largamente ignorados.

O Que é Que Maria Leva?


Ok, então até agora vimos que existe uma política de estado brasileira voltada a melhorar a qualidade do serviço público e, para isso, entende que deve ser investido no uso de SL quando interessante.

Com todo respeito ao estado, ao qual sirvo, e ao país, do qual sou um cidadão pagador de impostos: uma política boba, para dizer o mínimo.

Como é que é? Então precisa que alguém escreva "e a partir de agora vamos fazer mais com menos e sempre tentar melhorar tudo" para que o governo se mexa nesse sentido? Se até então não havia, como é que era a vida? Quais eram as prioridades? Gastar mais? Contratar mais funcionários públicos?

Entendem como é inócua essa política?
  • Se SL for mais barato e melhor, usem SL;
  • Se SL não for a melhor opção, não usem.
Pelamordedeus né?

Por aí, e pelo que está descrito no programa de SL do Governo Federal, podemos concluir com razoável certeza que NUNCA houve como meta mudar o sistema operacional das estações de trabalho, e por um motivo ridiculamente simples: seria muito mais caro do que a economia de licenças.

Esse é o quarto fato largamento ignorado:
Mudar uma base instalada de Windows para Linux - qualquer um - custaria muito caro (treinamento, serviço, suporte, tempo perdido, dificuldades, integração com o restante do mundo etc. etc. etc.), teria um enorme impacto negativo para o país e não traria praticamente nenhuma vantagem, desrespeitando frontalmente a política de SL do Governo Federal.
O que nos leva ao quinto fato largamente ignorado:
A política de SL do Governo Federal, largamente apoiada no funcionamento do SERPRO como catalisador, é irrelevante porque orienta a fazer o melhor possível.
Veja, eu pessoalmente acredito que fazer essa migração é um bom objetivo a ser perseguido. Por outro lado, eu sou visceralmente contra "fazer por fazer" ou "fazer por ideologia". A minha ideologia é a da Margaret Thatcher: estado não tem dinheiro, ele gasta dinheiro dos outros e por isso precisa ser bem gasto. Com tantas coisas por fazer, a troca de sistema operacional de estação de trabalho deveria vir no final da lista.

Como exemplo podemos citar Munique, cidade alemã, que fez essa migração. Este artigo mostra como as coisas evoluíram e conta alguns detalhes importantes - tal como o fato de a migração não ter sido motivada por custos, mas por ideologia.

A norma que instituiu o PSSL foi atualizada em 2013. Não houve nenhuma modificação significativa. Ela se tornou mais incisiva e abrange outros aspectos de administração da em dessaspresa, mas em suma continua dizendo a mesma coisa: que façamos o melhor para o país. (Insisto: sem isso, não faríamos??)

Calcanhar de Aquiles


Bom, se a meta não era trocar desktop, o que era então? Surpresa: não havia meta. Havia apenas um "direcionamento para internalização". É o mesmo problema de sempre: acreditamos, aqui no Brasil, que basta escrever uma norma ou uma lei que a realidade será magicamente alterada.

Como, infelizmente, a mudança de realidade depende de pessoas, não de tinta em papel, as boas intenções do PSSL redundaram em muito calor e pouca luz.

Esse é o fato largamente ignorado número seis:
Como nada foi feito de concreto, como não foi montado um plano, nem apontadas pessoas para executá-lo, a coisa continuou como estava, apenas agora tínhamos uma decisão em papel. Típico da mentalidade burocrática...

A maior fraqueza da política de adoção de SL era o fato de ser... uma política. Não havia nada de concreto, não havia nada de objetivo em tudo aquilo. Só uma orientação para "fazermos o melhor possível, usando SL se for melhor e mais barato".

Pelamordedeus.

A Volta dos Que Não Foram


E assim eu chego à pergunta que é o título deste post: vamos assistir ao fim do Software Livre no Governo Federal?

E a resposta, vocês hão de convir comigo, não pode ser outra: e algum dia SL começou no Governo Federal?

Não é que nada tenha sido feito, muito pelo contrário. Eu mesmo palestrei sobre SL e participei de muitas "ações" para alavancá-lo. O fato - o que de fato aconteceu - é que tudo que se discutia dentro dos comitês e reuniões e projetos era bloqueado pela realidade.

Eu não posso, por profissionalismo e lealdade, relatar nenhum dos detalhes ou analisar as falhas conceituais dos projetos em que participei, nem emitir minha opinião sobre como eu acho que deveria ter sido feito, até porque eu nunca tive nenhuma responsabilidade sobre as decisões, que vinham prontas "de cima". Eu posso compartilhar que a tônica desse debate raramente foi a redução de custos, o aumento de produtividade ou melhoria de qualidade. A tônica era sempre "evitar software proprietário".

E essa é o sétimo fato largamente ignorado:
Há muitas formas de se melhorar o lado tecnológico do Estado Brasileiro sem ter que apelar para Software Livre. Algumas são muito mais baratas e dão resultado muito mais rápido que trocar software.
E na esteira desse, o fato largamente ignorado número 8:
Software Livre não é só sistema operacional, não é só Linux. Há muitas formas de se investir em adoção de SL sem ter que partir para algo tão periférico, traumático e inócuo que é a troca do sistema operacional. Podemos começar com navegadores web, servidores de todo tipo, suíte de escritório, bancos de dados, BMPS, BI, ERP, etc. etc. etc...

Lavosier

E uma coisa que pouco se fala sobre SL é que ele não reduz custos necessariamente. Veja, raramente o custo de licenças de software é algo tão significativo que sua eliminação valha a pena. Em muitos casos é importante pagar por uma licença comercial do Software Livre para poder ter acesso a serviços imprescindíveis, tais como suporte 24x7 ou manutenções de emergência. É uma enorme irresponsabilidade subir um sistema de atendimento ao público, ao cidadão pagador de impostos, dependendo de suporte comunitário. Coisas falham, e sistemas são coisas. Imagine ficar com um serviço parado dependendo de manutenção no software que conta apenas com a boa vontade da comunidade de usuários? Lembram-se do e-Social? Ele não era Software Livre, não é uma uma peça central da vida pública nacional (é importante, mas ninguém morre se ele parar) e mesmo assim foi um transtorno até ser consertado!

O custo do Softwarte Livre não é zero. Pode ter uma licença mais barata, mas o custo se metamorfoseia em outras componentes.

O pai da química batiza o fato largamente ignorado número nove:
Software Livre não é gratuito, é livre. Ele é melhor porque é livre, não porque é de graça. Podermos usar um SL de graça não implica que não teremos que investir em treinamento, instalação, suporte, melhorias. O custo diminui de um lado, mas persiste em todos os outros aspectos. Menores custos, talvez, mas nunca, jamais, custo zero.

Ai, ai...

Bom, chegamos à tal petição. Ela diz:
Petição ao Governo Federal para NÃO trocar Linux por Windows(4)
Só isso. Tem ali uma explicação bem pequena:
O uso de Linux no governo traz benefícios diretos para a população como economia em licenças (1) e redução dos problemas com segurança da informação(2). O Linux é Software Livre e isto significa que é construído por toda uma comunidade de desenvolvedores em todo o mundo, o que permite sua crescente evolução como a presente nos celulares atualmente(3).

Leia informe de compra: link.

Leia documento de apoio de compra: link.
Vamos lá:
  1. Acabamos de ver que isso não é necessariamente verdade, logo esse ponto é frágil;
  2. Qual é a causa desses problemas? Você sabia que dá para comprar bases de dados de quase tudo até em banca de camelô? E a culpa é do Windows???? Não, né? E os escândalos de gente fraudando o sistema por dentro? Seria diferente se fosse Mac, Android, Windows ou Ubuntu???
  3. Ahn?? Que diabos isso tem a ver??
E finalmente o 4: de onde ele tirou isso? Onde há a declaração de que será feita a volta de uma migração? Que migração foi essa que eu perdi?
A Receita Federal e o Banco Central, por exemplo, não usam software livre em seus sistemas. Também não há dados claros quanto à economia gerada aos cofres públicos. Sabemos que, até 2008, a estimativa era a de que R$ 150 milhões haviam sido economizados. Outro número diz que foram R$ 500 milhões até 2010. Também fica difícil estimarmos em dados qual plataforma é mais segura.

Planejamento cancela Expresso do Serpro e adota e-mail da Microsoft - 22/09/2015


O fato largamente ignorado número 10:
O Governo Federal tem por objetivo atuar para melhorar nossa vida, não usar um marca de produto, e ele não é UMA pessoa, mas uma instituição. Logo, o presidente da vez não tem nada a ver com isso - vide o subtítulo desta seção.
Eu mantenho um blog chamado Solução em Aberto, dedicado a mostrar como SL é melhor que Software Proprietário e por que é uma boa escolha. Eu acredito em SL, mas como pagador de impostos me interessa que o Governo entregue o que promete. Não me interessa se ele vai fazer isso pelo caminho A ou B, desde que 1) faça 2)  respeitando a Constituição.

Qualquer um que opte por forçar a mão e tomar uma decisão por ideologia, porque quer, porque sim, está agindo contra o país. Essa petição faz uma defesa tão pobre e rasa do assunto que não há como um cidadão, cioso de suas obrigações e responsabilidade, querer assiná-la.

Eu assinaria se fosse melhor, se fosse mais inteligente. Mas assim? Pelamordedeus...

5 de out. de 2016

Preconceito? I Don't Think So!

Lê hoje no portal do SERPRO:

Preconceito geográfico

Uma das questões discutidas no painel seria um "preconceito geográfico" em relação ao desenvolvimento de TI no mundo, com empresas de países emergentes enfrentando maiores dificuldades para atrair investimentos. 

Vamos relembrar uma das maiores angústias do mercado de trabalho norte-americano? A migração de postos de serviço de TI de lá para... A ÍNDIA!
Quer outro exemplo curioso? Há uma empresa francesa de desenhos animados chamada Zag Heroes que terceiriza TODA animação para empresas da Coréia, assim como faz a Fox com os Simpsons.

Eu poderia passar o dia inteiro listando casos de empresas de um país - quando não o próprio país - que usa serviços e mão-de-obra de outro (Amazon), mas aí eu não acabaria o post (Odebrecht).

Não assisti a esse painel e por isso não sei precisar o contexto no qual essa expressão "preconceito geográfico" surgiu mas, com todo respeito a esses notáveis, a expressão não poderia ser mais errada. Não entender as causas e motivações é um defeito deveras comuns por aqui.

O que atrai investimentos são boas condições - segurança jurídica, liberdade econômica, qualidade da mão-de-obra e infra-estrutura. Como querer atrair investidores se um país não oferece isso?? Como convencer um empreendedor que ele deve ter ali seu negócio, se ele sabe que vai custar mais caro e obter um resultado pior??

E chamam isso de preconceito???Só um louco faria um investimento nestas condições!!


E quanto à nossa amada pátria, salve, salve, se existe uma causa para o Brasil não ter representatividade no mercado internacional de TI, ela é apresentada no post Brasil está em 122 no ranking de liberdade econômica.

Daí vem uma proposta de solução:
Limp afirmou que, para vencer essas dificuldades, a Apex apoia mais de dez mil empresas no Brasil. "A infraestrutura de hardware do país já é boa. O que precisamos agora é de investimentos em softwares como de big data e análise de negócios", avaliou.
A solução para o Sr. Limp é investir em softwares. Será que alguém sugeriu investir no barateamento do Custo Brasil ou em qualificação? Sim - uma pessoa! Pelo visto só em qualificação:
Já Kati Suominen, fundadora e CEO da TradeUp Capital Fund, afirmou que a região possui um potencial não realizado na assimilação de TI. Para Kati, tecnologia e educação devem andar juntas. "Muitas vezes, as empresas sequer conseguem assimilar e utilizar as tecnologias de forma criativa e eficiente: daí o valor do investimento não apenas em equipamentos, mas também na formação de bons profissionais", concluiu.
Talvez - apenas talvez - melhorar a qualidade da educação, tanto básica quanto superior, que despencou nesta última década, poderia ser uma idéia melhor... Uau.

Preconceito? Sério?? Qualé?! >:-(

21 de jun. de 2016

Bloqueado!

Acabo de descobrir que este blog está sendo bloqueado em algumas empresas do Governo Federal, classificado como conteúdo impróprio para menores. Isso significa uma de duas coisas:
  • O Governo inteiro comprou a mesma solução de filtro de conteúdo e ela está errando a classificação;
  • Eu estou certo.
Como é um governo notoriamente eivado pelo Esquerdismo, que é aquela seita que abomina a liberdade de expressão e o livre debate de idéias, eu aposto na segunda opção: eu estou certo.

Quero dizer, porque alguém se daria ao trabalho de bloquear um blog minúsculo e insignificante como este aqui? Eu sempre mantive o alto nível, com ironia e sarcasmo é verdade, mas nunca usei sequer um palavrão, quanto mais imagens ofensivas.
Complemento: sou tão insignificante que nem sequer tenho um único comentário de spam em quase dez anos!!!

Veritas Odium Parit


Portanto, ou é uma falha técnica homogênea, espalhada por diversos departamentos de TI, ou então estou sendo barrado. Eu tenho alguma dificuldade em acreditar em falhas técnicas tãããooo uniformes, mas tenho uma grande dificuldade em aceitar teorias conspiratórias. Mesmo assim a falha técnica me parece pouco provável, e por isso eu fico com a segunda opção, que ainda tem a vantagem de acariciar meu ego e me fazer sentir-me (muito) mais importantante do que eu realmente sou:

Eu estou certo. ;-)

16 de jun. de 2016

Meia-Informação

Entre escolher se uma dada notícia é boa ou má, temos sempre a opção é de olhar a realidade e entender as consequências dos fatos noticiados.

Vejam este post, tirado do grande blog Capital Digitial (original aqui):

Interessante, não? Subentende-se uma crítica negativa aqui, ao sugerir que o contribuinte (eu e ele inclusos) estamos sendo lesados por um comportamento comercial tido como inadequado pelo autor do blog.

Vejamos alguns fatos, então.

Faturamento do SERPRO

O SERPRO é uma empresa do governo federal, pertencente ao Ministério da Fazenda. Entretanto, ele não aufere seu faturamento por meio de aporte vindo do orçamento da união. Ao invés disso ele recebe por serviços prestados e produtos entregues. Não é um dado oculto: para verificar basta olhar o orçamento federal, e ver que o SERPRO não consta lá da mesma forma que constam os ministérios e outros orgãos - esses sim, pagos diretamente com impostos.

Ocorre que o dinheiro que o SERPRO recebe de orgãos públicos procede dos impostos, claro, pois governo não fabrica nada, não produz nada, apenas gasta o que pega de nosso suado dinheirinho.

Afirmar que "o cidadão transfere para o Serpro recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por serviços" é uma frase tão genérica que pode ser usada para qualquer empresa. Veja:
  • O cidadão transfere para o Banco do Brasil recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por serviços;
  •  O cidadão transfere para a Caixa Econômica Federal recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por serviços;
Esses exemplos caem na mesma categoria do SERPRO. Mas o que dizer destes casos "escanadolosos"? (ALERTA DE SARCASMO! kkkk)
  •  O cidadão transfere para a Vivo recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por serviços;
  • O cidadão transfere para a Positivo recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por serviços;
  • O cidadão transfere para a China recursos através de impostos e depois paga na iniciativa privada por produtos;
Caso não tenha ficado claro, o governo federal paga por serviços e produtos de uma pá de empresas privadas e, em última análise, remete dinheiro ao exterior ao comprar produtos manufaturados em outros países. (Eu não sei se o governo federal é cliente da Vivo, mas com certeza é da Positivo. E da China, somos todos, não? ;-) )

Entenderam o problema daquela afirmação? Ela serve para tudo!! Logo, ela é vazia de significado. Seria bem diferente afirmar que um hospital ou escolas públicas, parte do orçamento do governo (em várias esferas, aliás), passaram a vender atendimento de pronto-socorro para planos de saúde ou cursos de fim-de-semana, para fazer um caixa extra. Não é o negócio dessas empresas.

Levando o pensamento até o fnal, irremediavelmente chegamos na pergunta "porque o SERPRO é uma empresa do governo?", que pode ser reescrita como "porque o SERPRO não é uma empresa privada?".

A Riqueza das Nações

O que permite que usemos tecnologia de ponta, como microchips e vidros especiais, em produtos do dia-a-dia é o baixo custo desses produtos. E como é que coisas caras de se produzir podem ter um custo acessível? Simples de novo: produtos como computadores, fornos de microondas e smartphones podem ser comprados até mesmo por favelados porquê custa a mesma coisa produzir uma unidade de cada um ou 1.000 unidades.

Isso chama-se ganho de escala: gastamos o mesmo dinheiro para produzir uma, mil ou cem mil unidades de um determinado produto. Com isso podemos vender esse produto por menos, e ainda assim recuperar o dinheiro gasto e anda lucrar.

A lógica é muito mais simples do que parece: sempre que um produto cai de preço, ele vende mais. Tanto isso é um fato inquestionável que o tempo todo somos bombardeados com propagandas de promoções, de quedas de preços e tals.

O inverso também é verdade: produtos mais caros vendem menos.

Tem sucesso o empreendedor que consegue acertar o preço no qual ele vai maximizar seu lucro, aquele valor máximo no qual uma boa parte de nós topamos pagar por um bem, e além do qual ele vende menos e ganha menos. É justamente por esse motivo que monopólios são prejudiciais ao consumidor: a concorrência faz o preço baixar.

Então, sempre que um fabricante/prestador de serviço consegue aproveitar seus recursos (limitados) para gerar mais retorno, para vender mais, uma coisa fantástica acontece: seu lucro aumenta. O acúmulo de dinheiro gerado pelos lucros abre a esta empresa a possibilidade de investir em melhorias, em mais produtividade, que - se der certo - aumentam a lucratividade, o que permite baixar custos e diminuir preços finais.

Permite, mas não baixa o preço final por si só, bem entendid. Lembrem-se: monopólios ditam preços, mercado livre sofre concorrência e pressiona preços para baixo.

E outra: somos um país livre. Compra que quer - niguém terá uma arma apontando para sua cabeça dizendo "compre senão..." (como temos por exemplo com a Petrobrás: compre deles, ou então vai ficar à pé!)

Se o SERPRO passa a vender para um mercado maior, ele tende a faturar mais e a melhorar sua lucratividade. Lucratividade melhor significa mais investimentos, queda de custos e por assim por diante.

(Isso tudo é coisa velha, de uns 500 anos, e aprendemos na escola - não é nenhuma idéia revolucionária, só o bom e velho Liberalismo.)

Monopólios

Ao invés de se preocupar com algo que não existe (o suposto pagamento duplo ao SERPRO), teria sido mais valioso o autor daquele post colocar-se a favor dessa ação e pela quebra de monopólios. O SERPRO tem preferência nos contratos com o Governo Federal, o que reduz a pressão sobre sua qualidade e rentabilidade. Se há algo que seria bom é o SERPRO oferecer mais serviços, em um mercado menos regulamentado.

E se o SERPRO não conseguir sobreviver? E se ele se mostrar incapaz de se manter pelas próprias pernas, perdendo para uma concorrência melhor e mais barata?

Oras, você quer mesmo pagar impostos para pagar mais caro pelo mesmo serviço oferecido mais barato pelo concorrente? Você gosta de pagar mais pelo mesmo produto? ;-)

30 de mai. de 2016

Isso é o resultado da liberdade

Todo mundo gosta de ter liberdade. Quem não gosta? Poder fazer o que quiser, quando, onde e como? É o sonho dourado de todo mundo que aposta em jogos de azar, como Mega Sena e tantas outras loterias.

Viés, viés, viés

Notaram o "jogos de azar"? Soa ruim, não? É feio: jogos de azar. Como corrida de cavalos, cassinos, jogo do bicho e tantos outros. Podemos dar um viés negativo a qualquer coisa, basta escrever do jeito "errado" - pronto, fiz de novo: dei um viés ruim a idéia de dar um viés negativo. E podemos dar um viés positivo escrevendo do jeito certo. Fiz de novo: o jeito certo é bom, é positivo - só que se você discordar de mim, vai estar tudo ao contrário: o meu viés positivo é o seu viés negativo. Guardem isso: o enviesamento de cada opinião é sempre favorável, "do bem", para o autor, mas nem sempre para o leitor.

Bias, para os chiques que falam Inglês.

Viés sempre haverá, porque nunca conseguimos nos posicionar 100% isentamente, 100% neutros. E por isso mesmo o importante é deixar claro qual é o viés, ao invés de tentar fingir que ele não existe, que o autor é "isentão".

Ali em cima eu coloquei Liberdade como uma coisa boa. Alguns podem colocar que Liberdade é uma coisa ruim: se você é 100% livre, é livre também para prejudicar o outro, o próximo. Logo, bom é a Polícia, que limita a sua liberdade, e assim protege o próximo.

Afirmação da qual os norte-coreanos, cubanos e venezuelanos em geral discordam. Polícia é ruim, porque tira sua liberdade de ir e vir, de fazer o que quiser, mesmo que não seja prejudicar alguém.

Essa briga vai longe, já que ela é a própria guerra do Bem contra o Mal: sempre existiu e sempre vai existir, enquanto houver sociedade humana. O segredo é o equilíbrio: precisamos ter liberdade para perseguir nossos sonhos, cuidar de nossas vidas, e devemos abrir mão de parte dela na interação com nossos pares.

Liberdade É Ruim!

Li o seguinte post: http://www.capitaldigital.com.br/?p=18243

O título é "Isso é o resultado da sua omissão". O autor afirma que quando nós, assalariados, fugimos dos sindicatos como o diabo foge da cruz, acabamos muito mal-servidos: os salários são achatados e as seguranças empregatícias somem.

Leia o artigo para poder entender o argumento dele.

Ele dá a entender que as empresas não têm direito - não deveriam ter, ao menos - de estabelecer quanto estão dispostas a pagar por um determnado profissional. Pelo que ele deixa transparecer, as empresas só podem oferecer salários condignos com a posição e educação do candidato almejado.

É uma opinião e não me resta alternativa a não ser aceitá-la. O autor é livre para emiti-la, e mesmo que ela me desagrade, eu vou morrer lutando pelo direito de ele manifestá-la. (Percebem que essa postura de defender a Liberdade, especialmente a de expressão, e de respeitá-la mesmo quando ela nos desagrada anda em falta nestes últimos tempos?)

O que ele não coloca é que ele condena o liberalismo econômico. Ele vê a equação de uma forma muito... muito... limitada? Apertada? Como dizer, ele vê como quer ver, e escolhe ignorar a realidade em torno.

Liberdade é Bom!

Vamos supor que um sindicato qualquer decidisse quanto deve ser o salário de um certo profissional. O que aconteceria no caso mostrado?

Se o salário determinado pelo Sindicato for menor que o oferecido pelo empregador, o Sindicato é irrelevante. Se além de ser menor, o salário do Sindicato ainda fosse obrigatório, ele seria pernicioso, pois estaria prejudicando diretamente o trabalhador.

Neste caso, é bom que o empregador seja livre para poder oferecer mais que o mínimo. Liberdade é bom.

Se o salário determinado pelo Sindicato for maior que o que a empresa está disposta a oferecer, pela mesma qualificação, o Sindicato estará interferindo diretamente na administração da dita empresa, pois está obrigando-a a um gasto que ela não quer fazer, tolhendo sua liberdade de escolha. O sindicato estaria realizando uma perigosa ingerência, que pode levar uma empresa à falência e prejudicar não apenas os empregados, mas a cadeia de fornecimento (empregos indiretos) e - acima de todos - o consumidor.

Veja, dificilmente duas empresas possuem condições absolutamente iguais. Quando duas ou mais empresas disputam um mercado, se sai melhor aquela que atende melhor o cliente, e ainda obtém lucros. Aquelas empresas que não atendem adequadamente o consumidor, aos poucos perde participação e estagna em um nicho, ou some completamente, empurrada para fora do mercado PELOS CONSUMIDORES.

Se o Sindicato obriga uma empresa a uma despesa que ela não quer fazer, ele deixa a empresa em uma encruzilhada: desiste do profissional, e prejudica sua estratégia, ou decide ir adiante. Como dinheiro não dá em árvores, para fazer um gasto maior em um lado, ela precisa fazer um gasto menor em outra. No final das contas, ela vai ter um impacto negativo no seu lucro: será menor porque perdeu oportunidades, ou será menor porque foi obrigada a gastar mais do que queria. Mas será menor.

Como re-investimento no negócio é o principal combustível para fazer o negócio crescer, prejudicar a lucratividade prejudica a capacidade do negócio crescer. Resultado? Ao invés de a empresa crescer no ritmo que poderia, vai crescer menos, se crescer.

Tirar Liberdade é Sempre Ruim

Então o "certo" é deixar o Sindicato obrigar as empresas a fazer o que o Sindicato entende por certo? Vejamos:
  1. Se o salário da empresa for maior que o do Sindicato, o trabalhador se ferrou;
  2. Se o salário do sindicato é maior do que o que a empresa pode pagar, ela:
    1. Desiste de contratar o profissional: o trabalhador se ferrou, com menos vagas, maior desemprego;
    2. Como a necessidade para a qual aquela vaga foi criada não vai sumir, alguém vai ter que fazer. Então o serviço para quem fica aumenta, sem aumento de salário - o trabalhador se ferrou;
    3. Não desiste e contrata o trabalhador mais caro, mas exige mais experiência - o novato, inexperiente, que é "mais barato" se ferrou;
    4.  Não desiste e contrata o trabalhador mais caro, e além de matar a vaga para os menos experientes, cresce mais devagar, e gera menos empregos - e o trabalhador se ferrou de novo, agora como categoria e não mais individualmente.
Em última análise o trabalhador sempre se ferra se o Sindicato manda: ou prejudica o mercado de trabalho, ou prejudica a empresa, ou prejudica o cliente e os fornecedores.

Viés: Quem Sai Ganhando?

Notou que ao reduzir a liberdade do sistema, como um todo, o empregado sempre se ferra? Os clientes e o patrão também - todo mundo se dá mal quando tolhe-se a liberdade.

Daí o autor sugere que salários baixos são consequência da falta de Sindicatos para forçar os salários para cima. Bom, que evidências ele tem que isso é verdade? Isso é um viés, que ele não explicita!

No fundo, quem é que ganha com a existência de sindicatos intrometidos? Você tem uma chance!

Isso mesmo: enquanto as empresas afundam, o mercado de trabalho encolhe, e os produtos e serviços pioram, a única categoria feliz com o encolhimento geral da Economia são os... SINDICATOS!!

Salário Baixo?

Oras, se a empresa quer pagar pouco, azar de quem aceitar! Se você acha que não vale a pena, procure outra vaga! Ah, todas pagam pouco. Então procure a que paga mais! Nenhuma paga mais! Meu amigo, então ferrou geral, somos um país de trabalhadores de setecentos paus! Se você obrigar a pagar mais, não vai aumentar os ganhos de ninguém, mas sim o desemprego!

E aí, você prefere ser um desempregado de R$1.000,00 a ser um empregado de R$700,00?

Você prefere pouco ou nada?

Eu vejo mais riqueza nas nações capitalistas que nas nações socialistas, comunistas, coletivistas em geral. Esse é meu viés. ;-)

9 de mar. de 2016

OMG!Windows

E o dia que eu sabia que chegaria finalmente chegou:

https://redmondmag.com/articles/2016/03/07/sql-server-2016-to-linux.aspx

Isso mesmo: em março de 2016 o SQL Server foi oficialmente anunciado para Linux.

Afinal, se o mundo está indo nesta direção, o que a MS vai fazer? Enfiar a cabeça na areia e negar a realidade? Até quando? A que custo?

Ainda teremos a Microsoft vendendo Winnix - o Linux do Windows. Podem escrever o que eu estou dizendo! E já não falta muito, pois eles já dão suporte a Linux no Azure!