10 de nov. de 2015

Ideologia Atrapalha!!

Não duvidem na minha fé no SL e no código aberto - ela decorre dos fatos que nos cercam, mais do que na minha filosofia liberal. Isto posto, vejam esta notícia acabei de ler (aqui editada por mim:)
Fabricantes com quem conversei ontem no Telebrasil deixaram claro.

Não deverão participar de licitações para fornecimento de equipamentos de redes, de órgãos que incluírem no seu edital a exigência de abertura do código-fonte.

(...)

Há até aqueles que já fizeram as suas contas, para saber se haveria grandes perdas deixar de fornecer por algum tempo ao Brasil, enquanto vigorar essa exigência.

(...)“Eu tenho uma das minhas patentes que custaria hoje uns 50 bilhões de dólares. O Brasil estaria disposto ou teria condições de me indenizar esse valor, se meu código-fonte vazasse?

Durante o Painel Telebrasil 2015 foi colocado pelo Governo brasileiro a firme intenção de exigir a abertura de código-fonte em aquisições de TI & telecom.

A justificativa, segundo a notícia anterior é "só comprar sistemas informatizados e equipamentos de rede de telecomunicações quando puder auditar e ter as devidas garantias de proteção aos seus dados sensíveis". Voltarei a isso no final.

Vamos ler isso pelo outro lado, das consequências:
  1. As empresas que deixarão de concorrer podem vir a deixar de faturar;
  2. O pool de concorrentes diminui;
  3. O governo brasileiro reduz o pool de opções técnicas.
Agora vamos ver o que acontece em cada caso.

Empresas Deixam de Concorrer

Essa é fácil: só uma empresa pode ganhar uma licitação (exceto em caso de consórcio, mas não é o que parece aqui.) Logo, das X empresas que podem concorrer, só uma vai faturar essa grana.

Ou seja, deixar de concorrer não significa abrir mão de um faturamento garantido. Significa abrir mão de um item no funil de vendas - nada mais! Dinheiro de mentirinha, para todos os efeitos de planejamento.

Na pior das hipóteses, a empresa mais cotada para vencer em cada caso, e que saiba dessa sua vantagem, vai ter que se contentar em reduzir suas estimativas de vendas. E como nenhuma empresa é besta de depender de um só cliente, com certeza vai ter outras opções. Se pensarmos um pouco, desistir de vender para o setor público pode acabar liberando recursos para vender em outros setores, e até reduzir o tempo médio de vendas, já que essas licitações sempre se arrastam por meses, semestres, anos.

Pool de Concorrentes Menor

Com empresas desistindo, a competição se dará entre outras empresas. Se uma das desistentes fosse uma favorita, melhor ainda!, pois o favoritismo vai para alguma outra.

Porém, isso já é uma má notícia para nós, brasileiros. Quando a lista de opções diminui, estamos dizendo que asa opções de tecnologia para o Brasil diminuem.
O triplo pelo dobro!! Tudo ou nada!!
Conseguem imaginar tendo que escolher redes de 30MB, quando já se oferecem redes de 100MB nas casas das pessoas? Mas não compre agora, fica pior! O anúncio acima foi copiado das respectivas páginas da Vivo e do Virtua e é isso mesmo que se vê: mais do triplo da velocidade por menos do dobro do preço!

Ou seja, tecnologia mais nova costuma ser mais econômica, a ter um custo menor. Abrir mão de certos fornecedores pode sair mais caro!

Menor Pool de Tecnologias para o Brasil

E aqui vem a cereja do bolo. O que acontece quando os fornecedores deixam de querer vender para o governo do Brasil? O governo fica sem essas opções - afinal, não sou obrigado a fazer negócio se não quiser. Livre mercado, lembra-se?
Ah, Fábio, mas a solução então não é abrir mão do código-fonte, mas sim proibir a empresa de se recusar a fazer negócio!

Sério mesmo? Eu escrevi isso de brincadeira, mas não duvido que certos próceres esquerdetas preguem tal absurdo. (Não vou estender esse assunto aqui, e recomendo essa leitura para uma visão mais completa de porque não existe indústria de tecnologia avançada em "economias" de esquerda.)

Se uma empresa estabelece uma condição para ser atendida - e o Governo é uma empresa - os fornecedores decidem se vale a pena ou não fazer negócio com essa empresa.

Conclusão?

Quem paga se a tecnologia sair mais cara? Nós.

Quem fica sem serviço se a tecnologia for insuficiente? Nós.

Quem sai perdendo se o Governo insistir em ideologia? NÓS!!

Quem paga o Governo? Sim, isso mesmo: eu, tu, ele - nós.

E em troca do quê uma o Governo pede abertura do código-fonte? Que vantagem eu, tu, nós teremos com isso? E quem vai fazer? O Gmail?

Vale a pena se arriscar a pagar o preço por essa vantagem, quando abrir mão dela poderia trazer ainda mais benefícios, ser mais barato (dado o corte próximo de 20%, ainda mais!), ter maior qualidade, e ficar com mais dinheiro para mais investimentos?

Como é que podemos afirmar que o Governo trabalha em nosso benefício, nós, pagadores de impostos, se esse mesmo Governo toma uma decisão que arrisca tornar tudo pior e mais caro?